“SERÁ QUE SOMOS TODOS COMPRADOS?”

O músico moçambicano Stewart Sukuma criticou a “partidarização das artes e cultura”, acusando os artistas de apoiarem um “sistema injusto e opressor que governa há quase 50 anos”.

O músico moçambicano, numa publicação na sua rede social Facebook, escreveu que, “quanto a mim, o maior paradoxo reside no silêncio dos mesmos artistas na hora da intervenção social. Aqueles que são os primeiros a recuarem quando todos devemos dizer não à injustiça, ao sofrimento e à angústia dos mais desfavorecidos”.

Stewart Sukuma defendeu que a “partidarização das artes e cultura” é “um retrocesso à democracia” e representa um “inequívoco sequestro das liberdades fundamentais” do ser humano, criticando igualmente a participação da classe em actos de campanha eleitoral para partidos e formações políticas.

“Os mesmos que se apartam das reivindicações dos moçambicanos, hoje aparecem em todos lugares a convencerem esse mesmo povo (desfavorecido) para que apoie e diga sim ao sistema injusto e opressor que nos governa há 50 anos. Sim, 50 anos!”, lamentou o músico.

Sukuma afirmou que o país caminha para o “abismo”, destacando como um dos principais motivos a “frustração generalizada” em todas as áreas.

“Quase que não temos fôlego. Aliás, os artistas não são e nunca foram prioridade para este sistema. Mas em nome de actuações nos casamentos, galas, amizades e outros favores inconfessos, lá vamos nós cantar e dançar nos comícios e a disseminar mensagens ressoadas nas redes sociais”, referiu o artista.

“Quando a sociedade civil deixa de ser um bloco de pressão para quem governa agir de forma íntegra, a esperança esgota-se e oficializamos o individualismo selvagem. Será que fomos todos comprados?”, questionou.

Numa outra publicação na mesma rede social, o artista escreveu que nenhum dos políticos da actualidade lhe “inspira confiança” e que os candidatos à Presidência da República devem mostrar que se “preocupam com o país”.

“Quando digo isto [partidarização das artes] nem estou a falar do partido no Governo. Estou a falar de todos os partidos dentro da sua área de acção. Eu desafio quem pense diferente a provar-me o contrário. Nem todos os artistas apoiam campanhas políticas por iniciativa própria. Uns têm medo e outros são coagidos a fazê-lo”, referiu, indicando que “o país está muito doente”.

Luís Pereira, uma referência da música moçambicana, é conhecido no mundo artístico como Stewart Sukuma, nome que significa “Levantar” em Zulu e ‘Empurrar’ em Suaíli.

Sukuma nasceu em 1963, em Cuamba, província do Niassa, em Moçambique.

Além da Orquestra Marrabenta Star, fez parte de vários projectos e bandas, entre elas, a Alambique, como percussionista/voz, Mbila, como vocalista, e Formação 82, como percussionista/voz, tendo conquistados vários prémios nacionais e internacionais.

Em 1998, Sukuma mudou-se para Boston, onde ingressou na prestigiada Berklee College of Music.

Autor de álbuns como “Afrikiti”, “Nkuvu”, “Boleia Africana” e “O meu lado B’, combina a música tradicional com a contemporânea, criando música enérgica e dançante com sons Afro/Pop/Jazz.

As eleições presidenciais moçambicanas vão decorrer em 9 de Outubro em simultâneo com as legislativas, dos governadores provinciais e dos membros das assembleias provinciais.

Folha 8 com Lusa

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